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Música, dança e vestimentas típicas: são as quadrilhas juninas em ritmado movimento

As quadrilhas juninas do Piauí seguem firmes fortalecendo uma tradição que, além de manter viva a cultura popular nordestina

02/06/2025 às 09h52

As quadrilhas juninas do Piauí seguem firmes fortalecendo uma tradição que, além de manter viva a cultura popular nordestina, movimenta a economia local e gera empregos em um dos períodos mais esperados pela população. Os grupos juninos enaltecem esse importante movimento cultural através da dança, das músicas e das vestimentas. 

As quadrilhas juninas do Piauí seguem firmes fortalecendo uma tradição que, além de manter viva a cultura popular nordestina - (Divulgação/Junina Explosão Estrelar) Divulgação/Junina Explosão Estrelar
As quadrilhas juninas do Piauí seguem firmes fortalecendo uma tradição que, além de manter viva a cultura popular nordestina

Investimentos chegam a R$ 1 milhão, por temporada

No Piauí, as festividades juninas iniciam oficialmente no dia 30 de maio e se estendem até o segundo final de semana de agosto. Durante mais de dois meses, o estado se transformou em um grande arraial, com apresentações de quadrilhas juninas, festivais, shows e manifestações culturais que celebram a tradição nordestina com alegria, cor e muita dedicação.

Esse período é aguardado com ansiedade pelos grupos juninos, que am o ano inteiro se preparando para os grandes momentos do calendário junino. De acordo com João Rodrigues, presidente da Federação de Quadrilha Junina do Piauí (Fequajupi), atualmente 84 grupos estão associados à entidade, embora o número de quadrilhas seja ainda maior, com ao menos um grupo presente em cada município do estado. As cidades de Teresina e Parnaíba concentram o maior número de grupos profissionais.

No Piauí, as festividades juninas iniciam oficialmente no dia 30 de maio e se estendem até o segundo final de semana de agosto. - (Divulgação/Fequajupi) Divulgação/Fequajupi
No Piauí, as festividades juninas iniciam oficialmente no dia 30 de maio e se estendem até o segundo final de semana de agosto.

A programação junina contempla festivais municipais, regionais, estaduais e até interestaduais. “Temos uma agenda com festivais que vão de 30 de maio até o segundo final de semana de agosto. Todo final de semana temos festivais, em todas as regiões do estado, como Picos, Floriano, Uruçuí, Gilbués, Bom Jesus, São João do Piauí, Currais, Buriti dos Lopes, entre outros”, afirma João Rodrigues.

O ápice desses eventos é a escolha da melhor quadrilha do estado, que depois compete com representantes de outros estados para disputar o título de melhor quadrilha junina do Nordeste. O Piauí, com orgulho, ostenta o tricampeonato seguido, sendo atualmente uma das maiores referências juninas do Brasil.

O Piauí, hoje, é uma das maiores referências e potência junina do país. Isso mostra a força das quadrilhas juninas piauienses em manter essa tradição, que é muito forte no estado

João Rodriguespresidente da Federação de Quadrilha Junina do Piauí (Fequajupi)

Essa força das quadrilhas piauienses é resultado de um trabalho intenso e profissional. Alguns grupos investem valores que chegam a R$ 1 milhão por temporada, totalizando mais de R$ 30 milhões em investimentos nos últimos quatro anos. As apresentações exigem grandes produções, que envolvem figurinos, coreografias, cenografia e uma estrutura que demanda mão de obra especializada.

Alguns grupos contam com até 132 integrantes, formando 66 casais. Essa dimensão reforça a grandiosidade das apresentações e a seriedade com que os participantes encaram a cultura junina.

A Federação tem tido um papel fundamental nesse processo de crescimento e profissionalização. Segundo o presidente da Fequajupi, a federação promove workshops, cursos e intercâmbios, visando capacitar os integrantes dos grupos. “Esse integrante vai aprender, estudar, se qualificar e se tornar um profissional, de modo que os grupos se tornem autossuficientes com a costura, com o figurino, com o desenvolvedor temático, com projetista em geral”, explica João Rodrigues.

Alguns grupos contam com até 132 integrantes, formando 66 casais - (Divulgação/Fequajupi) Divulgação/Fequajupi
Alguns grupos contam com até 132 integrantes, formando 66 casais

Além disso, a Federação tem sido essencial para facilitar o o aos recursos financeiros. A maior dificuldade dos grupos era justamente conseguir apoio, mas, com a capacitação dos presidentes e equipes de captação, foi possível garantir investimentos significativos.

“Antigamente, a Federação não conseguia nem R$ 20 mil para os grupos juninos. Mas, nesses últimos quatro anos, já conseguimos cerca de R$ 10 milhões. Além disso, todos os grupos contam com uma equipe capacitada para captar recursos e concorrer a editais”, destaca o presidente.

A arte de confeccionar figurinos juninos

Produzir um figurino junino vai muito além de costurar tecidos coloridos. É um trabalho minucioso, carregado de técnica, paciência e paixão. Janaína Rocha (48) tem 22 anos de experiência com a costura, sendo 18 deles totalmente dedicados às festas juninas. Ela está à frente de um dos ateliês mais procurados por quadrilhas juninas do Piauí.

Costurar roupas juninas não é uma tarefa fácil. Além de muito detalhadas, alguns figurinos chegam a pesar até 8 kg depois que aplicamos pedrarias e bordados

Janaína Rochacostureira especialista em figurinos juninos

Para dar conta da demanda, especialmente durante os meses que antecedem os arraiais, ela conta com uma equipe dedicada. Ao seu lado, Ana Lúcia atua como braço direito, auxiliando na confecção da peça-piloto, no corte e na montagem do figurino base.

“É daqui que sai a peça-piloto. Montamos, apresentamos para o cliente e, se ele aprovar, seguimos com o corte e a modelagem. As demais costureiras dos ateliês parceiros fazem o restante do trabalho, mas tudo sob a minha supervisão, porque precisa vestir perfeitamente”, explica a costureira.

Janaína atende grupos de diversas regiões do país. Além de Teresina, seus figurinos já brilharam em Brasília, Manaus e no Maranhão. Este ano, apenas para uma quadrilha da capital, ela precisa entregar quase 170 peças até o dia 10 de junho. Um verdadeiro desafio logístico e criativo.

“Eu fiz a roupa de uma noiva, que foi representando o Piauí em um festival em outro estado, e ela voltou com o título. Não é somente a dança e o carisma que conta, o figurino também é importante, porque ele precisa estar dentro do tema”, disse.

Janaína atende grupos de diversas regiões do país. Além de Teresina, seus figurinos já brilharam em Brasília, Manaus e no Maranhão - (Assis Fernandes/ODIA) Assis Fernandes/ODIA
Janaína atende grupos de diversas regiões do país. Além de Teresina, seus figurinos já brilharam em Brasília, Manaus e no Maranhão

O processo de produção é minucioso e vai desde a escolha dos tecidos até a aplicação das pedrarias. Tudo é pensado para garantir que o figurino resista aos movimentos intensos da dança e permaneça impecável até o final da apresentação. São aplicadas técnicas específicas de costura reforçada, forros estratégicos e estruturas internas para sustentar o peso das pedrarias.

E o investimento é alto. Uma única peça pode custar até R$ 7 mil, especialmente no caso de figurinos de destaque, como os de noivas e rainhas. O conjunto completo de trajes para uma quadrilha pode ultraar os R$ 200 mil. “Hoje em dia os figurinos são quase como carros alegóricos. São roupas muito chamativas, bordadas, com tecidos nobres, até alfaiataria”, diz Janaína Rocha.

Apesar da correria e das noites em claro, a costureira garante que o reconhecimento compensa todo o esforço. “Quando entregamos os figurinos e ouvimos nosso nome sendo anunciado como figurinistas da quadrilha, é gratificante demais. O dinheiro é bom, mas o prazer de saber que fui eu quem fez não tem preço. Quando comecei, me perguntava como alguém conseguia fazer roupas tão detalhadas e pesadas. Com o tempo, aprendi. Hoje, meu ateliê é o terceiro mais procurado por quadrilhas juninas. Isso me mostra que valeu a pena acreditar nesse sonho”, conclui a costureira.

Junina Explosão Estrelar: 11 anos de tradição, arte e identidade piauiense

Com 11 anos de existência, a quadrilha Junina Explosão Estrelar, é um dos grupos juninos que mais representa o Piauí quando o tema é São João. A quadrilha é formada por 30 pares - 60 componentes -, porém, o grupo conta com 85 pessoas, entre figurinistas, projetista, diretor teatral, músicos e demais profissionais que fazem parte da engrenagem que transforma uma ideia em espetáculo.

. As músicas, as coreografias e até o ritmo são criações próprias, exclusivas do grupo, o que confere à quadrilha uma identidade única. - (Divulgação/Junina Explosão Estrelar) Divulgação/Junina Explosão Estrelar
. As músicas, as coreografias e até o ritmo são criações próprias, exclusivas do grupo, o que confere à quadrilha uma identidade única.

Cleide Vieira, istra e coordena a Junina Explosão Estrelar, e conta que a quadrilha junina é marcada pela originalidade, sendo o autoral seu principal diferencial. As músicas, as coreografias e até o ritmo são criações próprias, exclusivas do grupo, o que confere à quadrilha uma identidade única. Segundo Cleide, apenas o tradicional pout-pourri é adaptado, por exigência dos concursos juninos.

Somos a única quadrilha do Piauí que criou seu próprio ritmo. Temos a nossa identidade própria

Cleide Vieiracoordenadora a quadrilha Junina Explosão Estrelar

A rotina de uma quadrilha junina é intensa e começa logo após a última apresentação do ano. Ainda em agosto, o grupo se reúne para avaliar, estudar e iniciar o planejamento do novo ciclo. Em janeiro, os ensaios se iniciam, juntamente com a definição do tema, figurinos e repertório. “A gente respira, come e dorme quadrilha. É um processo pensado por várias pessoas, para que, no final, termos esse espetáculo e manter a tradição das quadrilhas juninas”, comenta Cleide Vieira.

A escolha do tema é um momento importante e conta com a participação dos membros que compõem a coordenação da quadrilha. O projetista do grupo apresenta três propostas, das quais uma é escolhida para ser a temática do espetáculo. A seguir, os coreógrafos e músicos se conectam e começam a elaborar os os e composições que darão vida à história que será apresentada.

Retratar o Piauí é outro traço marcante da Explosão Estrelar. A cada ano, a cultura piauiense é apresentada através de personagens, símbolos e tradições que marcaram a história do estado e da capital. Em 2022, a Arte Santeira foi o tema do espetáculo; em 2023, os Vaqueiros foram os protagonistas. Já em 2024, a sanfoneira Sebastiana ganhou destaque, e para 2025, o tema escolhido é o Boi-bumbá do Piauí, com destaque para o Imperador da Ilha — o mais antigo do estado, fundado em 1934 no bairro Piçarra, em Teresina.

A rotina de uma quadrilha junina é intensa e começa logo após a última apresentação do ano - (Divulgação/Junina Explosão Estrelar) Divulgação/Junina Explosão Estrelar
A rotina de uma quadrilha junina é intensa e começa logo após a última apresentação do ano

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