As redes sociais foram criadas com o propósito inicial de conectar pessoas, permitir expressar opiniões e compartilhar momentos cotidianos. Mas nos últimos tempos, este espaço vem ganhando um novo papel: o de vitrine para o crime. Em Teresina, tem sido comum o registro de influenciadores usando de sua visibilidade em plataformas como o Instagram para exibir armas, ostentar dinheiro e divulgar jogos de azar não autorizados. Boa parte delas é mulheres. Ao menos seis já foram presas por usarem suas redes sociais para divulgarem jogos ilegais ou fazerem apologia o crime.

O balanço foi divulgado pela Secretaria de Segurança Pública nesta sexta-feira (02), depois da prisão da blogueira Ana Azevedo, conhecida como “coreana”, suspeita de integrar uma facção criminosa. Ela não foi a primeira influenciadora se ser alvo de uma operação policial voltada para o combate ao crime organizado.
Ainda em outubro de 2024, quatro influenciadoras foram detidas em Teresina por divulgarem jogos de azar não autorizados (Jogo do Tigrinho) no Instagram e induzir seus seguidores ao erro. As vítimas apostavam quantias vultuosas nas plataformas indicadas pelas blogueiras e acabavam caindo em golpes, sem receber os prêmios ofertados e nem qualquer reembolso por parte dos operadores.
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Foi a Operação Jogo Sujo II, que prendeu, entre outros, as blogueiras: Milena Pâmela, Letícia Ellen, Brenda Raquel e Yrla Lima. Na época, a polícia divulgou que elas faziam parte de um esquema de estelionato que teria causado prejuízo de cerca de R$ 500 mil às vítimas. As quatro já foram soltas e respondem ao processo em liberdade.
Já no último mês de março, foi a vez da “Charmosinha do 15”. Maria Eduarda Sousa tinha mais de 35 mil seguidores nas redes sociais e promovia jogos ilegais, além de ser investigada por assaltos e ligação direta com o PCC, segundo informou a polícia.

Saiba quem são as influenciadoras presas em Teresina por divulgação de jogos de azar ou apologia ao crime:
Milena Pâmela: é empresária e proprietária de uma loja de roupas e de uma marca de suplementos vitamínicos. Na ocasião da Operação Jogo Sujo II, ela tinha 211 mil seguidores no Instagram. Após ter seu perfil bloqueado, ela criou uma conta reserva depois que foi solta e hoje tem mais de 52 mil seguidores. Nas redes, Milena compartilhava uma vida de luxo, com viagens para o exterior.
Letícia Ellen: também compartilhava uma vida de luxo nas redes sociais e usava o perfil para divulgar jogos de azar. Após a prisão, sua conta no Instagram foi desativada.
Brenda Raquel: quando foi presa, ela tinha mais de 90 mil seguidores e era conhecida como “Grandona”. Brenda foi presa junto com o pai, que portava uma arma de fogo no momento da abordagem pela polícia.
Yrla Lima: foi presa por pelo menos duas vezes em 2024 por promover jogos de azar não autorizados. Yrla havia sido alvo da Operação Jogo Sujo II, em outubro, mas quando foi posta em liberdade, voltou a divulgar plataformas ilegais, o que a levou novamente para a prisão. Questionada sobre por que voltou a cometer o delito, ela afirmou que o Instagram é sua única fonte de renda e que “se der dinheiro, eu vou anunciar”.

Maria Eduarda Sousa (Charmosinha do 15): foi presa em operação do DRACO no Residencial Teresina Sul por suspeita de envolvimento com facções criminosas. Uma semana antes, ela já havia sido detida junto com comparsas, suspeita de roubar um mercado no Residencial Bosque Sul. Nas redes sociais, Charmosinha costumava ostentar dinheiro.

Ivana Azevedo Alves (Ana Azevedo): foi presa na última quarta (30) pelo DRACO na Operação Faixa Rosa, que prendeu, também, outras 15 mulheres apontadas como integrantes de organização criminosa. Conhecida como “coreana”, ela usava as redes sociais para ostentar dinheiro, armas fazer apologia ao crime. Ao ser presa, mandou beijo para os seguidores.

Samynha Silva assassinada
Yrla Lima era amiga de uma outra influenciadora também suspeita de envolvimento com o crime em Teresina. Era ela quem estava na garupa da moto de Samynha Silva, a blogueira que foi assassinada em outubro de 2023 ao sair de um clube no São João. Segundo a polícia, Samynha foi morta por membros de uma facção rival à sua após ser perseguida. O inquérito apontou que a influenciadora vinha sendo seguida e observada por desafetos.
A moto que ela pilotava foi abordada pelos suspeitos na Avenida João XXIII e ela foi morta a tiros no dia 01 de outubro de 2023. Entre os envolvidos em seu homicídio, há presos e um que foi morto durante confronto com a polícia. Dias antes do assassinato, Samynha teria postado um vídeo em que aparecia fazendo o sinal de uma facção que atua em Teresina.
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Nova estratégia de recrutamento e naturalização da violência
No balanço das prisões de influenciadoras teresinenses suspeitas de envolvimento com o crime, a Secretaria de Segurança Pública do Piauí (SSP-PI) se referiu aos atos praticados por elas como “nova estratégia de recrutamento e naturalização da violência”. Para o órgão, o que as blogueiras fazem na cadeia do crime é uma espécie de “lavagem de imagem por parte de facções criminosas”.
Juntas, elas somam mais de meio milhão de seguidores nas redes sociais e não apenas ostentam um estilo de vida incompatível, como algumas também exibem armas, divulgar jogos ilegais, ameaçam rivais e propagam símbolos de facções com “aparência de conteúdo comum”. Quem afirma isso é o coordenador do DRACO, delegado Charles Pessoa.

“Essas influenciadoras tentam disseminar a cultura da criminalidade, cometendo crimes. Isso acende um alerta não só para as autoridades, mas também para a sociedade, principalmente os mais jovens, que muitas vezes consomem esse tipo de conteúdo sem perceber o dano coletivo que ele representa”, finaliza Charles Pessoa.
Os perfis dos influenciadores foram bloqueados por determinação da justiça quando de suas prisões, mas ao serem liberados, eles puderam retomar suas atividades nas redes, seguindo uma série de restrições.
Influenciadoras que divulgaram jogos ilegais podem responder por apologia ao crime, diz delegado
Divulgar jogos de azar nas redes sociais pode ser considerado apologia ao crime. Quem afirma é o delegado Charles Pessoa, que coordena o DRACO. Ele comenta que quem usa o Instagram ou qualquer outra rede para incentivar seus seguidores a apostar em plataformas não autorizadas está induzindo as pessoas ao erro e divulgando espaços de cometimento de crime.
No Brasil, os jogos de azar são regulamentados por leis específicas, e sua prática é proibida, salvo em casos excepcionais como os estabelecimentos de loterias autorizados pelo governo. A apologia ao crime, segundo explica Charles, ocorre quando alguém faz propaganda ou incita a prática de delitos. E mesmo que a pessoa não esteja praticando diretamente o jogo ilegal, ao promover este tipo de atividade nas redes sociais, ela está incentivando outras pessoas a praticarem algo ilícito, o que pode sim configurar apologia ao crime.

“As pessoas que usam as redes tanto para divulgar estes jogos, quanto para divulgar qualquer outro símbolo e imagens que façam referência a facções criminosas estão praticando um crime, sim. E estamos atentos. O DRACO e as outras unidades da Polícia Civil estão atentos para coibir qualquer tipo de prática como estas e buscar a responsabilização dessas pessoas”, explica Charles Pessoa.
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