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Bebês reborn: conheça o trabalho de artista que cria bonecas hiper-realistas

Nas últimas semanas, as bonecas ganharam espaço nas redes sociais e geraram polêmicas. Para a artista Alessandra Nácul, a ligação emocional com o bebês reborn pode ultraar o limite saudável.

16/05/2025 às 14h58

Os bebês reborn são bonecas hiper-realistas de recém-nascidos que têm conquistado cada vez mais espaço entre as colecionadoras brasileiras. Nas últimas semanas, as bonecas ganharam espaço nas redes sociais e geraram polêmicas, seja porque muitas influenciadoras “adotaram” um bebê, seja pelo comportamento de “humanização” dos bonecos ou ainda pela arte por trás desse tema.

Bonecas reborn ganharam espaço nas redes sociais e geraram polêmicas - (Arquivo Pessoal) Arquivo Pessoal
Bonecas reborn ganharam espaço nas redes sociais e geraram polêmicas

Essa exposição, no entanto, tem levantado uma série de discussões sobre os limites entre arte, espetáculo e até mesmo saúde mental. Para Alessandra Nácul, artista plástica há 27 anos e criadora de reborns há oito, o que deveria ser uma valorização de seu trabalho artístico muitas vezes acaba sendo distorcido.

Ale, como é conhecida, descobriu os bebês reborn em 2017, ao se deparar com imagens dessas criações na internet. "Vi os bebês na internet, me encantei, e decidi fazer um curso. Me senti realizada", conta. O encanto foi tanto que ela decidiu investir em sua formação na área, aprendendo técnicas que iam além do vinil, como a pintura em silicone — material utilizado em próteses humanas e que permite uma finalização ainda mais realista.

Artista Plástica Alessandra  cria bebês reborn há oito anos - (Arquivo Pessoal) Arquivo Pessoal
Artista Plástica Alessandra cria bebês reborn há oito anos

Como os bebês reborn sugiram?

A história dos reborns remonta à Segunda Guerra Mundial. À época, mães reformavam bonecas antigas para suas filhas, numa tentativa de oferecer consolo em tempos difíceis. Foi desse gesto que nasceu o termo reborn, que significa "renascido". Com o tempo, o que começou como uma forma afetiva de ressignificação ou a ser desenvolvido com fins artísticos.

Escultores começaram a modelar bebês realistas em vinil, surgindo aí o reborn moderno como conhecemos hoje. A evolução, tecnológica e artística, levou à criação de bonecos em silicone, mais detalhados, com texturas que imitam a pele humana, articulações móveis e até mesmo resistência à água para simular banhos. Em alguns casos, esses bebês podem até ser robóticos, muito utilizados no universo cinematográfico.

A história dos reborns remonta à Segunda Guerra Mundial - (Reprodução) Reprodução
A história dos reborns remonta à Segunda Guerra Mundial

Produzir um bebê reborn não é tarefa simples. É um trabalho minucioso, que exige habilidade artística e domínio de técnicas específicas de pintura, escultura e montagem. Tudo começa com um kit em vinil ou silicone cru, que será transformado em um bebê com expressão, cor de pele, cabelos e até veias visíveis. Cada detalhe é pensado para alcançar o máximo de realismo possível.

“Quanto mais realista o bebê, mais caro ele se torna”, explica Ale Nácul. Os preços podem variar entre R$ 1.500 e R$ 12 mil, dependendo do tamanho, material e nível de detalhamento. “Tem gente que se planeja o ano inteiro para comprar esse bebezinho. Elas vão dando um valor por mês, e quando quitam, a artista envia o bebê”, comenta a artista plástica.

Embora haja uma grande demanda para presentear crianças, Ale destaca que muitos adultos também se interessam por esses bebês como peças de coleção, valorizando-os como obras de arte.

 Os preços da boneca reborn podem variar entre R$ 1.500 e R$ 12 mil - (Arquivo Pessoal) Arquivo Pessoal
Os preços da boneca reborn podem variar entre R$ 1.500 e R$ 12 mil

A espetacularização nas redes sociais

Apesar do caráter artístico, nas últimas semanas os bebês reborn viraram alvo de polêmicas. Vídeos de influenciadoras e colecionadores interagindo com os bonecos como se fossem crianças reais viralizaram, gerando críticas e julgamentos. Para Ale Nácul, essa espetacularização acaba ofuscando o trabalho sério dos artistas.

“A maior parte desses vídeos que estão viralizando são de pessoas que querem chamar atenção através dos bebês reborn. Na internet, essa espetacularização dá mais atenção do que a arte, e muitos casos que têm repercutido são mesmo para viralizar. Só que isso ridiculariza nosso trabalho. Não basta a pirataria, ainda temos que lidar com esse outro lado, e a mídia tem dado mais espaço para quem faz esse tipo de coisa do que para quem trabalha com isso e faz um trabalho sério”.

Alessandra NáculArtista Plástica

Ale Nácul esclarece, ainda, que os encontros promovidos por artistas com colecionadores em shoppings ou locais públicos têm como objetivo divulgar o trabalho. “Não é porque a pessoa não sabe diferenciar um boneco de um bebê de verdade. É uma forma de mostrar a arte, gravar vídeos, alcançar o público. Mas algumas pessoas distorcem tudo isso”.

Bebês reborn como terapia e uso emocional

Além do aspecto artístico, os reborns têm sido utilizados em contextos terapêuticos. Idosos, pessoas com Alzheimer, autismo e mulheres que aram por perdas gestacionais encontram nos bebês uma forma de consolo e companhia.

A artista ite que, em alguns casos, a ligação emocional pode ultraar o limite saudável. “Se a pessoa começa a viver em um mundo paralelo, aí sim temos um problema. Mas isso é minoria. A maioria sabe que aquilo é uma obra de arte, um brinquedo, e utiliza de forma lúdica”, ressalta Ale.

No universo dos reborns, é comum o uso de termos carinhosos como “mamãe reborn” e a atribuição de nomes aos bebês. “Como obra de arte, ao fazermos um bebê, damos nome ao kit como forma de organização, para facilitar no momento da identificação e venda. Junto ao kit, é enviado um termo de autenticidade, uma certidão de nascimento com o nome do bebê e da mãe, mas a pessoa pode escolher outro nome”, explica.

Especialistas apontam que a ligação emocional pode ultraar o limite saudável  - (Jailson Soares/ODIA) Jailson Soares/ODIA
Especialistas apontam que a ligação emocional pode ultraar o limite saudável

Pirataria precariza a arte

Uma das maiores ameaças ao trabalho dos artistas reborn, segundo Ale Nácul, é a pirataria. Ela denuncia a prática de copiar esculturas originais em vinil, geralmente criadas por artistas internacionais, e reproduzi-las em silicone de baixa qualidade. “A escultura é a parte mais difícil e cara. Leva anos para se tornar um escultor. Estudamos anatomia, proporção, fazemos cursos”, cita,

Com a pirataria, os custos despencam, assim como a qualidade. Enquanto um bebê original pode custar R$ 6 mil, uma versão pirata é vendida por apenas R$ 400. “Esse valor não paga nem o bebê cru, sem pintura, quem dirá o material, o cabelo, os olhos, os órios, e a mão de obra. Além disso, alguns materiais podem causar problemas de saúde”, alerta.

Bebê reborn original pode custar R$ 6 mil e a versão pirata é vendida por R$ 400 - (Jailson Soares/ODIA) Jailson Soares/ODIA
Bebê reborn original pode custar R$ 6 mil e a versão pirata é vendida por R$ 400

Diante das polêmicas envolvendo os bebês reborn nas últimas semanas, Ale Nácul tenta enxergar o lado positivo da repercussão. “Penso que agora, apesar das pessoas estarem ridicularizando, o que é ruim, temos a oportunidade de ter mais voz para mostrar o outro lado. Prefiro olhar para o lado positivo”, acrescenta.


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